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sábado, 20 de setembro de 2014

13 - O PREDADOR

                                             
           

O Predador

As sombras se mesclam aos poucos com os minguados clarões de luz.
A noite se insinua sobre Porto Alegre e desperta as criaturas da noite,que em bandos, tomam as ruas e becos, vagueando na procura do que fazer.
Punks, darks, skinheads, metaleiros, emos, boêmios, pagodeiros, piranhas, meliantes, seguranças e toda a sorte de tribos convergem sempre para os mesmos lugares, naquela procura das mesmas coisas que justifiquem a desgraçada existência de todos eles. Algumas vezes eles se cruzam.
Ocasionalmente se misturam e até se acasalam.
Raramente ficam para sempre.
Esses grupos vão tomando conta da noite e tentam tomar o espaço todo certinho, construído pelos que cultuam a luz do Sol e que já se recolheram ao conforto e segurança das casas elegantes e gradeadas, como senhores feudais em seus próprios castelos.
Um grupo diferente destes, no entanto, move-se sem alarde pelas ruas mal iluminadas do bairro Humaitá, na zona norte da cidade.
Eles manobram uma jamanta de 35 toneladas, tipo baú, sem identificação ou letreiros, rebocada por um cavalo-mecânico Scânia de 800 cavalos de potência para fora de um discreto pavilhão, que por razões de segurança, não pode ter a localização aqui revelada.
Os tripulantes não falam entre si.
Somente um deles, dentro do imenso baú, com fones e microfones na cabeça e sentado diante de um conjunto de monitores de computador piscantes, fala com alguém conectado no outro lado da linha.
O motor possante ronca e as vibrações se fazem sentir por toda a carroceria, mas os ocupantes não se importam e parecem acostumados com o ruído.
Cada um está ocupado com alguma tarefa e quem os visse, diria que estão muito focados naquilo que estão fazendo.
A cena lembra um daqueles filmes de guerra, em que os soldados dentro de uma cabine mexem em botões e comandos, tentando um ataque certeiro ao inimigo incauto. O interior do baú está imerso numa semi-penumbra, que parece ter penetrado da noite lá fora pelas janelinhas laterais do baú, tipo escotilha de submarino, envolvendo e transformando os enclausurados em figuras mais sinistras ainda.
Após o caminhão rodar por um tempo não maior que duas horas, ele para e o motor diminui a rotação.
Agora o interior do baú começa a se agitar.
Um operador, sentado numa poltrona com manches (que  lembram os controles de um vídeo-game) e usando um capacete especial que envolve toda a cabeça (conectado aos sistemas de computação por um feixe de cabos que saem da nuca) é o mais "nervoso" e dispara ordens e comandos aos asseclas em volta, mas eles não desviam a atenção do que estão fazendo, apenas escutam e automaticamente executam o que é ordenado, de forma quase mecânica, em total disciplina e organização.
De dentro do baú eles estão controlando a "coisa", um produto da inteligência humana, que tanto pode estar a serviço do bem como do mal. Nesta noite, a "coisa" estará do lado "negro da força". 
Fazer o quê? A vida é assim: ums podem ganhar, mas outros terão que perder.
E nesta noite, alguém perderá....a vida!
Sim, a "coisa" irá ceifar a vida de mais uma pobre vítima!
Bem que ela poderia salvar alguma alma, mas hoje a "missão" fará o oposto disso: mandará uma para o inferno! 
Foi para isso que toda a equipe se preparou e estudou meticulosamente um plano para levar ao sucesso esta empreitada.
Sim, os "Snakers" são mercenários. 
Só trabalham para quem paga mais.
Eles são invisíveis, precisos e perigosos para as vítimas-alvo e nada os deterá. 
Fazem um serviço limpo, que deixa as autoridades atônitas e os senhores do poder arrepiados. Ninguém está à salvo do alcance das garras desta organização.
A "coisa" é um robô, misto de  assassino e herói, que se desloca pelas tubulações de esgotos das cidades, chegando aonde quer que precise, penetrando fundo onde ninguém chega.
É comandado à distância e invade qualquer ambiente, rastreia e localiza o alvo e executa o serviço para o qual foi programado, retirando-se em silêncio sem deixar pistas ou vestígios de que passou por ali.
Para a vítima de hoje, só resta uma saída: ela não pode estar ali no momento em que a "coisa" chegar.
E isso não tem importância, pois a "coisa" tem paciência e tal como um predador no topo da pirâmide, aguarda na próxima tocaia a chance de dar o bote final na caça.

-O-O-O-

Fim de mais um episódio de SNAKERS