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domingo, 23 de dezembro de 2012

12 - A INVESTIGAÇÃO


A madrugada primaveril de uma abafada de Porto Algre anuncia mais um tórrido verão gaúcho e
enche os bares e calçadas da boêmia Cidade Baixa. Também ajuda na insônia de um
quase aposentado funcionário público, o perito policial Adelar.
Os últimas notícias da imprensa local desencadearam uma avalanche de perguntas e geraram
um turbilhão de respostas no cérebro do servidor do Instituto Geral de Perícias.
Adelar tenta buscar na luminosidade ruidosa da rua José do Patrocínio, com as centenas
de personagens notívagas que para lá convergem atrás de êxtase etílico e sexo barato,
uma distração para o turbilhão em que mergulhou a mente que deveria estar em repouso nesta noite.
O dia tinha sido cansativo e Adelar sentia-se esgotado, mas algo o mantinha em pé até
altas horas.
Ele relembrava mentalmente do corpo extendido do juiz Benetton, encontrado morto dentro de um
banheiro da sala 804 do fórum Central. Aparentemente atingido por um fulminate ataque cardíaco.
É estranho, pois os ultimos exames de rotina feitos pelo juiz não apontavam esta possibilidade.
Também relembrou o caso do inquérito 611724208. Na época, ao examinar as imagens
de uma camera instalada dentro do cofre onde o processo estava protegido,
Observou que uma sombra muito estreita, como a de uma corda, movia-se fora do campo da tela.
Tinha se intrigado com esse pequeno detalhe, mas deu de ombros para o fato.
Tempos depois, outro caso: o prisioneiro 1665-B, detido numa prisãoi de segurançla máxima.
Era um assaltante de bancos evadido, que se envolveu num tiroteio com muitos mortos e feridos.
Foi encontrado estirado no chão da cela, com os braços abertos e olhos esbugalhados, ao lado
de uma carreirinha de cocaína altamente pura.
Como a droga entrou lá?
Um filete de sangue seco no pescoço, denunciou um corte certeiro, talvez de uma lâmina afiadissima,
que decepara a traquéia e a carótida.
Como e quem cometera o assassinato dentro de uma área tão protegida?
As imagens das cameras de segurança não captaram nada. As celas continaram trancadas e
so foram inspecionadas quando o preso naõ respondeu a chamada.
Quando chegou na cela para cobrir a cena do crime, viu que tinham "lavado" o
vaso sanitário, que segundo os carcereiros, estava todo "borrado" de fezes, mas
o cadaver estava limpo e a autópsia não revelou que o assaltante não tinah feito uso
do tal vaso antes de morrer.
O perito Adelar saca de um cigarro, quebrando o jejum que prometera a si mesmo de abandonar o vicio.
Ele traga e dá umas baforadas aspergindo uma nuvem no ar, incrivelmente parado sobre Porto Alegre.
O que ele vê na fumaça são mais vultos de mais fantasmas que agora querem lhe afugentar a paz.
Ele vê um paciente termina, um homem no leito de morte, que parecia dormir um sono eterno, com um leve sorriso nos lábios,
após alguém ou alguma "coisa" ter cortado fios e tubos que conectavam o enfermo aos aparelhos mantenedores das
funções vitais. E o hospital e secretária da saude até hoje estão "investigando" o que aconteceu.
Ainda tem o caso do sequestrador que foi capturado "morto" depois de ter sido "imobilizado" por uma "serpente" metálica,
como descreveram as duas única reféns e vítimas do meliante. Porém, estranhamente, tanto o delegado
que atuou na ação quanto o tenente que invadiu a loja após um tiroteio que alegaram vinha de "dentro para fora" do prédio,
não realtaram nada de "anormal" nesta ocorrência.
Só que as fotos tirada poela perícia do local do crime indicavam a presença de que alguma "coisa rastejante"
teria se movimentado pelo chão do local.
E o que dizer de um achado incrível: um "pendrive" instalado em um roteador dentro do cofre do mais moderno e
seguro datacenter do sul do País? Até agora ninguém soube dizer para que serve e quem o instalou!
O fato assustou o Secretário Municipal Adjunto para Assuntos "Estratégicos", que ordenou a abertura de
Inquérito Administrativo e encaminhou o caso para o Ministério Público, que remeteu  para o titular
da Vigésima Delegacia especializada em crimes cibernéticos. Passados quarenta dias, a
investigação resultou vazia de respostas. O delegado chegou a indiciar um analista de sistemas
responsável pela segurança do DataCenter, mas desistiu de levar as acusações contra o funcionário
adiante.
Adelar tentava mentalmente ligar todos os casos, etabelecendo um elo de ligação entre eles.
O que lhe chamava a atenção era os indícios sempre apontavam para alguma "coisa" misteriosa
sempre presente nas cenas dos crimes: um rastro deixado por alguma coisa
"rastejante", mas que, curiosamente, sumia no meio do caminho, com se tivesse sido
propositadamente "apagado".
-Apagado? Por quem?
No cenário da cela, ele fotografou as mesmas marcas se afastando do ponto onde o preso
tombou em direção ao fundo da cela, mas somem subitamente.
No caso do juiz Beneton, idem.
Já no hospital, os mesmos sinais de que alguma "coisa" teria visitado a U.T.I. antes
de consumar o assassinato.
A viúva parecia, estranhamente, tranquila e com um olharpacífico e tranquilo ante à perda súbita
do marido.
E o que pensar do sequestrador? As vítimas juraram ter visto uma "enorme serpente" atacando o
meliante. Na loja também havia sinais de que algo se arrastara até ali, mas os mesmo também "sumiam"
no meio do caminho, que indicava o fundo da cela, onde só tinha um vaso sanitário instalado.
Súbitamente Adelar é pércorrido por um choque que lhe percorre a coluna de ciam a baixo.
-É isso! Só pode ser isso!
Ele pega o celular e disca nervosdamente para um colega do Instituto Geral de Pericias.
-Alô?
-Sou eu cara, o Adelar!
-Há...O que você quer?
-Eu acho que desvendei o mistério da morte daquele assaltante de bancos.
-Jura? E como é que se deu?
-Ouve bem: o que acabou com o cara, deve ter saído de dentro do vaso sanitário, se arrastando e...
-Tá...tá...e essa "coisa" seria o quê? Um crocodilo?
Interrompido, Adelar foi pego de surpresa pela ironia do colega.
-Que é que isso meu brother? Tá me gozando?
-Não me leva mal caraq, mas essa tua teoria cai bem em roteiro de cinema, mas quero ver quem
é que vai te apoiar nessa.
-Ainda não sei o que é que saiu de dentro do vaso e...
-Não se preocupe Adelar. Chame um biólogo. Vai ver foi um "alligator" transgênico, sedento por
fazer justiça e...
O colega do IGP não terminou de falar e a ligação foi interrompida.
Adelar desligou furioso. Não aguentou a zombaria.
Decidiu que iria investir na prórpia tese e provar ao mundo que há algo mais
misterioso sob os pés dos Porto Alegrenses  do que sobre a superfície.
E fica fitando a imagem de uma sombra em uma das fotos sobre a mesa, que revela uma
sombra comprida, se esgueirando pelo canto direito da cena.
Passa o dedo indicador pelo borrão e bate nele três vezes.
-Você é meu e vou pegá-lo.
Fala em voz baixa enquanto cofia a barba rala.
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FIM DESTE EPISÓDIO
 

sábado, 15 de dezembro de 2012

11 - A COISA - "A EVOLUÇÃO"


A madrugada no porto de Porto Alegre é pertubada por figuras furtivas, que se agitam dentro do armazém D1.
Os homens que por ali se batem estão descarregando o conteúdo de um enorme caixão de metal, um container, enviado em um navio direto de Cingapura. A longa viagem terminou em terras gaúchas, mas por precaução e para não chamar a atenção, a carga do container só foi descarregada após o anoitecer, no meio da madrugada.
Os homens obedecem as orientações de um senhor, que insiste em usar um chapéu antiquado, mas elegante, feito de feltro.
Acompanhando tudo, o olhar observador de um jovem e idealista engenheiro fica extasiado quando um dos volumes envelopados em uma das caixas de madeira descarregada do container, reluz na luz tênue das luminárias do armazém.
É um objeto cilindrico e metálico, envolto em palha de vime e bolinhas de isopor.
O cavalheiro de chapéu, que também observa o objeto, comenta que é a evolução da técnica.
O objeto chama a atenção. Parece um imenso anelídeo, desses que normalmente se encontra ao escavar a terra úmida dos jardins. O aço polido da "coisa" reflete imagens distorcidas do ambiente, mas tanto o engenheiro e o cavalheiro de chapéu conseguem se dinstiguir entre as distorçoes refletidas. Entretanto, o olhar deles é de deslumbramento diante do novo modelo da "coisa".
-Rapaz-susurra o velho-este "projeto" inovou. Agora teremos mais "autonomia" em nossas "ações".
-Quais os avanços esse novo modelo apresenta? O rapaz está ansioso por uma resposta.
-Eu compreendo tua ansiedade. A fala do velho é calma e tranquila.
E continua:
-Este sistema é totalmente novo. Não vamos mais necessitar de um motor diesel para
movimentar o "extenser" por todo o trajeto. Esta unidade é totalmente autônoma. E ela
se "arrastará" até o destino, não importando as dificuldades do trajeto.
O velho fala enquanto estica o olhar para o engenheiro, para medir as reações
dele diante de cada palavra.
-A "unidade"-prossegue o velho-tem três hastes que se projetarão para fora
do corpo principal, fixando-a nas paredes internas da tubulação. Em seguida
estenderá para frente um prolongamento do corpo principal. Dele sairão
outras três pinças, que também se fixarão nas paredes do duto invadido.
O jovem engenheiro ajeitava o óculos o tempo todo, como se quisesse ajustar
o foco para ver melhor.
-Então,-prossegue a voz pausada e rouca do velho-as primeiras hastes são
recolhidas e a extensão do corpo é recolhida, e este movimento de retração
puxa o restante do corpo da "coisa" cada vez mais adiante, e assim ela
vai percorrendo todo o itinerário programado.
-E a fonte de energia para isso tudo?-quiz saber o engenheiro.
-Já esperava esta pergunta. Ela provém do metano pré-existente dentro das
tubulações. Este modelo da "coisa" foi projetado com uma
célula compacta de reciclagem de metano em energia para os
sistemas embarcados nela. E no ambiente em que ela transitará há combustivel
de sobra.
-E como vai fazer para recuperá-la?
-Ora meu ingênuo jovem. A "coisa" fará os movimentos inversos para retornar
para a base. E através do GPS, poderemos monitorar cada metro percorrido.
-E como o senhor resolveu a questão da comunicação? Não ficará prejudicada?
-Pensamos nisso também. Para isso abusamos da tecnologia de celular. E para aumentar
a eficiência, a "coisa" terá suporte de um longo cabo óptico. Teremos
velocidade de transferencia de dados muito superior à melhor banda larga digital
existente no mercado.
-Porque tudo isso? Não ficou caro demais?
-Jovem, no nosso "meio" os resultados devem imediatos e precisos. Não pode
haver falhas. Muitos dos "membros" da nossa "organização" são devotos à ela.
Eles todos tem uma dívida de "gratidão" com nosso grupo. Isso é que dilui os
possíveis custos.
-Senhor...-o engenheiro não chega a terminar o que estava iniciando a dizer
e é interrompido pelo ancião:
-Você terá a honrra de fazer o batismo desta "coisinha" espetacular. Será
a nossa próxima "ação" e com a nova tecnologia. E quer saber qual é?
Falou e esticou um olhar penetrante para o jovem.
O engenheiro faz um meneio com a cabeça confirmando a curiosidade.
-Vamos pregar um "susto" no governador e dentro do palácio do governo.
O olhar do jovem se espanta ante o sorriso inigmático do homem de chapéu de feltro,
que já não sabia se de entusiasmo ou sadismo.

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Fim deste episódio.